O ex-primeiro-ministro da Malásia, Mohatir Moahmed, considerado por muitos o “pai” da Malásia moderna – e apesar das críticas aos seus quase vinte e cinco anos de poder – escreve no seu último livro que o Islão – ou seja a comunidade que adopta a religião islâmica como religião professa – “…voltará a ser grande quando voltar a ser senhor do conhecimento.”
Esta ideia, que constitui aliás um regresso ideológico ao passado de grandeza intelectual do Islão dos séculos X, XI e XII, tem gerado nos países que oficialmente adoptam o Islão como religião de Estado, muitos seguidores.
Na prática, significa uma condenação das práticas radicais e extremistas – tão em voga nos dias de hoje – e reconduz a problemática da identidade e da importância, à questão do saber e do conhecimento.
Nada de novo, portanto, no plano ideológico.
Mas do ponto de vista prático, esta corrente doutrinária – busca da supremacia com base no conhecimento – tem levado muitos países da esfera islâmica à adopção de políticas de educação e formação sem paralelo no chamado mundo ocidental.
Uma das mais interessantes encontra-se no Dubai (Emiratos Árabes Unidos).
A par das majestosas construções com um design e uma arquitectura arrojadíssima, a par do luxo e da ostentação, de paredes meias com o grande centro financeiro da cidade, encontramos a “Aldeia do Conhecimento” – The Knowledge Village.
É um espaço físico, delimitado, onde estão alojadas cerca de 400 empresas de Recursos Humanos, Universidades, Academias, Escolas de Gestão, beneficiando todas elas de isenções fiscais totais – ou seja, não pagam qualquer tipo de imposto – por um período mínimo de dez anos.
Todas as entidades ali alojadas – bem como os Consultores e Professores independentes que o pretendam – podem utilizar a marca “Knowledge Village” para promoverem o seu trabalho e venderem os seus serviços.
Todos os residentes na “Aldeia do Conhecimento” têm obrigação de frequentarem os workshops regulares que visam a transferência de know-how e o desenvolvimento do trabalho em rede cooperativa.
Recentemente, aquando do Congresso Mundial da IFTDO – International Federation for Training and Development Organizations, realizado no Dubai, tive oportunidade de visitar a “Aldeia do Conhecimento” e tomar contacto directo com alguns dos projectos ali desenvolvidos.
Confesso que fiquei espantado!
Não esperava encontrar, paredes meias com o maior luxo, tanto amor e tanto empenho pelo Conhecimento.
Para que os leitores tenham ideia, assisti a uma apresentação – feita pelo Assessor do Sheik do Dubai para o desenvolvimento das lideranças – de um projecto a 15 anos, que visa desenvolver competências de liderança em toda a população, e preparar as sucessões tanto na Administração Pública como no sector privado.
É um projecto que conta com um investimento global de 12 biliões de dólares e que permite a todos os jovens adquirirem formação específica, terem um Coach, e sujeitarem-se a Assessment permanente das suas competências de liderança. Estagiam nas empresas e na Administração Pública, são avaliados e partilham as suas vivências e experiências com todos os envolvidos no projecto. A assistência técnica ao projecto é garantida por alguns dos maiores especialistas mundiais em liderança e assessment.
A participação no projecto não acarreta quaisquer despesas, inclusive a frequência de Mestrados e de Pós-Graduações é suportada pelo estado.
Convém dizer também que o Dubai – a par do Bahrain – já decidiu deixar de explorar petróleo. A sua economia depende hoje do comércio, do turismo e do sector financeiro.
Com esta visão e com esta coragem, não me admiro que o desejo de Mohatir Moahmed se cumpra e que, daqui a alguns – poucos – anos, o Islão volte a ser “dono” do conhecimento.
Gostava que olhássemos estes exemplos com menos preconceito e com mais atenção e cuidado.
Se assim não for, o Alvin Toffler, ao dizer que o futuro já aí está mas milhões de cegos não o querem ver, terá cumprido a sua “terceira vaga”.
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