quinta-feira, 26 de junho de 2008

O NanoPC - A revolução? Ou a luta contra a transformação do telemóvel em PC?

 

 

Chegou a Portugal, quase um ano depois do lançamento mundial, o Asus Eee PC 701, um computador portátil ultraleve que custa apenas 299 euros. Pequeno e com software opern source Linux, promete agitar o mercado nacional.

Com pouco mais de 900gr, trata-se do primeiro nanobook da Asus, concebido a pensar nos utilizadores que privilegiam a conectividade em qualquer situação e nos consumidores pouco experientes no que se refere à informática. «easy to learn, easy to play e easy to work», referiu Andee Hsu, directora de produto Eee PC, segundo a Exame Informática.

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Esperado há mais de dois anos – anunciado a cerca de 100 dólares para ser distribuído às crianças das escolas dos países mais pobres – aí está o primeiro PC abaixo dos 300 euros. Ou seja, um PC mais barato que um PDA e do que um telemóvel de gama média/alta.

Tem disco rígido, permite acesso à Internet via WIFI, e vem com uma memória de 512 Mb.

Pode ser adquirido também com o Windows XP. Segundo consta a Microsoft disponibilizou ferramentas do Windows Live.

O que virá a seguir?

A nossa saúde, em espanhol!

Afinal, o governo espanhol sempre precisava dos profissionais – médicos e enfermeira(o)s – que estavam a trabalhar em Portugal. E de uma assentada, aumentou-lhes o ordenado, conta-lhes o tempo de trabalho em Portugal como tempo de serviço, e aí está um regresso em massa.

Consequências mais visíveis: algumas VMER(s) sem tripulantes, serviços de urgência em risco de paralisação, diminuição drástica do pessoal de enfermagem em alguns serviços hospitalares.

Como é que o nosso Ministério da Saúde vai resolver este – imenso – problema?

Será que, de uma vez por todas, vai rever as carreiras hospitalares? Que vai abrir os Quadros de Pessoal?

É que não temos agora quem substitua, de imediato, os profissionais espanhóis que estão a partir!

Merecem um público louvor por tudo o que aqui fizeram. Bem Hajam!

 

 

Revisão do Código do Trabalho

 

Segundo a Agência noticiosa “Lusa”, o Governo aprovou hoje em Conselho de Ministros a proposta de lei que visa a revisão do Código do Trabalho.

Do ponto de vista processual a proposta de lei vai agora ser enviada para a Assembleia da República para ser discutida e aprovada.

Para já desconhece-se o agendamento, mas, avizinhando-se as férias parlamentares e a sensibilidade do assunto, é provável que só venha a ser aprovada na próxima sessão parlamentar.

Vamos ver o que os deputados vão fazer em sede de discussão. Baixará à Comissão? Será logo aprovada? Serão introduzidas alterações? Mesmo que o Governo solicite um debate de urgência, parece-me que ainda vamos esperar algum tempo para ver os resultados finais desta revisão do Código do Trabalho.

E no final, que Código do Trabalho (corpo principal+regulamentação+revisão)? Confesso que estou expectante!

 

Novamente a questão dos feriados e pontes!

Uma jornalista do Semanário “O Diabo” – Liliana Soares – fez este trabalho sobre o problema das pontes e feriados em 2008.

Apesar de ser um tema recorrente, vale a pena ler. E pensar sobre ele pois é uma questão que continua sem ser abordada seriamente.

 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Já não bastava a crise!

64 minutos de jogo no Portugal-Alemanha, 1-3, e volta a depressão nacional. Scolari quebrou a corrente emocional ao anunciar a ida para o Chelsea. A virgem de Caravagio abandonou-nos!

Jornadas de Estudo do GREF - na Culturgest

Foto tirada à cerca 5 minutos. A "Ibéria" da Formação Bancária. O Luís Vilhena da Cunha, o José Rodrigues e o Paco Segrelles de parabéns!

Mata-Mata

Falta pouco para a grande decisão. Força Portugal!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Medo e Compromisso

Inspirado por Pilar Jerico

 

        Num quadro de instabilidade crescente – nomeadamente económica e social – com uma precarização dos relacionamentos – laborais, afectivos, grupais – que lugares poderão encontrar para o compromisso (“commitment”), para aquele sentimento de dedicação profunda, de envolvimento, de alegria?

        Esta é hoje uma questão recorrente.

        Preocupa as famílias e, acima de tudo, as empresas.

        Como e de que forma é possível pedir a alguém que se comprometa – com um projecto, com uma ideia, com os colegas, com o líder – quando as pessoas vivem num quadro onde o medo – gerado pela precarização dos relacionamentos – assume um papel predominante?

        Sim, as pessoas andam com medo.

        Medo de perder a família, medo de não poderem continuar a manter o mesmo estilo de vida, medo de perder a(o)s companheira(o)s, medo da insegurança, medo de perder o emprego ou o trabalho – ainda, e sobretudo, se precário. E este medo é interclassista. Afecta os que têm muito e os que pouco ou nada mantêm. Todos partilham, em forma diferentemente doseadas é evidente, o medo.

        E sobre esta problemática, encontramos diversos posicionamentos.

        Para uns, deve evitar-se ter medo (como se isso fosse possível e aconselhável), para outros, devemos aprender a geri-lo e, para outros ainda – para não me resumir a uma visão bipolar tão comum nos dias de hoje – devemos ultrapassar o medo, ou seja, deixar de senti-lo.

        Ora, o medo é um sentimento essencial à sobrevivência da espécie humana. Sem o medo, já as nações se teriam destruído pela via nuclear e cada um de nós, caso esse cataclismo não ocorresse, dificilmente sobreviveríamos sem o medo. Saltaríamos de uma alta montanha, atravessávamos a auto-estrada a passo de caracol e não combateríamos o ridículo.

        E como sentimento humano e ainda por cima necessário à sobrevivência, ainda bem que temos medo. Todavia, o quadro de instabilidade e de insegurança atrás referido, tem trazido um novo tipo de medo – antinatural – que é um medo patológico (doentio). Já não é sentir medo, mas ter medo, de forma quase permanente, bloqueadora, que castra a própria vida.

        E é esta forma sofredora de ter medo que impede o estabelecimento do compromisso no sentido positivo.

        Quando uma empresa ameaça permanentemente os seus trabalhadores da possibilidade de encerramento ou de rescisão do seu contrato a termo certo, chamando a atenção do trabalhador dos efeitos que a perda do salário pode ter na sua vida, mais não faz do que apelar ao ter medo e gera, com isso, uma atitude de compromisso sim, com esse mesmo medo quase irracional e não com qualquer projecto ou ideia. Nestes casos é completamente hipócrita falar do tão conhecido chavão do “vestir a camisola”, pois “vestir a camisola” (a não ser que ofereçam tshirts) neste contexto é completamente impossível. O trabalhador pode fazer uma representação social mais ou menos convincente de está envolvido com a empresa, mas, de facto, está de um sentimento de quase pavor, que é o mais próximo do ter medo.

        O que devem então as empresas fazer para aprender a lidar com esta dicotomia aparentemente inultrapassável de necessitarem de um compromisso por parte dos seus trabalhadores e ao mesmo tempo estes sentirem medo?

        Em primeiro lugar, perceberem e entenderem – através do seu discurso, do discurso dos seus dirigentes e da sua prática instrumental – que gerar medo não vai conduzir ao compromisso. Gerar medo nos trabalhadores assume forma de manipulação dos sentimentos e, por essa via, só vão provocar o ter medo!

        A resposta dos trabalhadores será uma representação dos seus papéis sociais orientada para aquilo que a empresa diz que espera deles, mas sem que se estabeleça verdadeiro compromisso.

        Já é suficiente sentir medo. Ninguém precisa que lhe façam ter medo!

 

 

As Mulheres

Confesso que gosto das mulheres e, por isso, não suporto aquela expressão tipicamente masculina do “gosto de mulheres”.

Gostar de mulheres significa uma forma de afirmação heterossexual – o contrário seria gostar de homens – com tudo o que isso implica de carga sexual e de pretensa afirmação da masculinidade.

Gostar das mulheres é outra coisa completamente diferente.

É gostar das suas especificidades – por vezes incompreensíveis para a forma de pensar dos homens – e das suas excentricidades, da sua forma de se entregarem á vida, ao belo, ao amor.

Gostar das mulheres é tentar percebê-las, aceitá-las, é admirar o seu espírito de sacrifício e de entrega, a sua inteligência emotiva.

Gostar das mulheres é também gostar de trabalhar com elas e para elas, aceitando e estimulando a sua forma de liderar e de gerir.

Gostar das mulheres é muitas vezes aceitar, resignado, por incapacidade, a sua intuição.

É entender a forma como gerem as relações humanas, como mantêm as famílias unidas, como se relacionam entre elas e com os homens.

É admirar o seu espírito de sacrifício, a sua dedicação, a sua generosidade.

É tentar perceber a sua inata capacidade de multitarefa simultânea, da qual tenho uma secreta inveja.

Gostar das mulheres é também admirar a sua sexualidade tão ligada aos sentimentos mais profundos e, não raras vezes, aos instintos mais primários.

É apreciar a sua beleza física – uma mulher tem sempre algo de belo para ser apreciado – e a sua permanente preocupação com essa mesma beleza.

E aprecio ainda mais aquelas mulheres que, sem abdicarem um segundo que seja das suas características de afirmação e de independência, continuam a prezar a sua feminilidade, o seu prazer e o seu orgulho em serem mulheres.

É por tudo isto que gosto das mulheres e não tolero a expressão “gosto de mulheres”.

Mas gosto das mulheres ainda por uma outra razão.

A sua energia!

Muita admiração causa a energia das mulheres. Elas suportam cargas de trabalho violentíssimas e têm tempo para tudo: tratam dos filhos e dos maridos, limpam a casa, levam as crianças á escola, ajudam-nas na educação, trabalham dentro e fora de casa, almoçam com as amigas e com os amigos, levam uma vida sexual activa e, mesmo quando parecem completamente esgotadas, um dia se sol renova-lhes totalmente as forças e a energia.

Parece que têm uma capacidade de renovação energética, de carácter telúrico – o efeito do sol, da lua – que as faz reviver e rejuvenescer quase que por milagre.

A essa energia, chama uma amiga minha, numa das mais belas frases que ouvi nos últimos tempos, a energia vital da criação.

E acredito nisso mesmo, que essa força descomunal das mulheres, advém de um reservatório energético ligado à capacidade de dar vida á vida.

E se dar vida á vida é intrínseco à natureza feminina, gostar das mulheres será a melhor forma de apreciarmos e respeitarmos a vida.

É por isso que eu gosto das mulheres!

 

 

 

Portugueses são os que gastam mais com alimentação - "Diário Digital"

Cerca de 17% das despesas totais das famílias portuguesas destina-se à aquisição de produtos alimentares e bebidas não-alcoólicas, segundo o estudo «O Observador Cetelem», divulgado esta quarta-feira.

Portugal, seguido de Itália, Espanha e França, é o país europeu cujas despesas com a alimentação ocupam um peso preponderante nas despesas totais dos agregados familiares, registando um valor que é quase o dobro de países como o Reino Unido e o Luxemburgo, que apenas dedicam a este item 9% do seu saldo de despesas totais.

Segundo o estudo, tal situação «deve-se ao facto de se verificar uma tendência inflacionista dos alimentos que deriva do crescente aumento dos preços das matérias-primas».

Em contrapartida, os portugueses são os mais prudentes no que se refere a gastos relacionados com actividades culturais e de lazer, que ocupa apenas 7% do orçamento familiar.

 

 

 

Maioria dos portugueses encara com pessimismo o ano de 2009 -"Diario Digital"

Quase três quartos (72%) dos portugueses residentes no Continente com 18 e mais anos considera que a situação económica do país será ainda pior no próximo ano, segundo os resultados de Maio do Barómetro Político da Marktest.

Apenas 10,3% está confiante de que será melhor e 12,2% considera que será igual.

Os portugueses mostram-se muito pessimistas relativamente à evolução da economia do país e do seu agregado familiar. O índice de expectativa é de 20,6%, muito abaixo do limiar do optimismo (50%) e o seu valor mais baixo de sempre, adiantam.

A sondagem conclui ainda que as expectativas dos portugueses são ainda mais pessimistas quanto à evolução da situação económica do país do que relativamente à evolução da sua situação económica pessoal e familiar.

Embora muito pessimistas, os portugueses mostram um sentimento menos negativo relativamente à evolução da sua própria situação económica pessoal e familiar: 10,9% considera que vai ser melhor no próximo ano, 21,8% diz que vai ser igual e 59,6% entende que vai ser pior.

 

 

 

 

Mobilidade Especial

Quando será que as situações relativas à Mobilidade Especial no Ministério da Agricultura ficam clarificadas?

Foram problemas técnicos – provavelmente – mais do que problemas políticos a gerar estes protestos?

 

 

 

A Aldeia do Conhecimento

O ex-primeiro-ministro da Malásia, Mohatir Moahmed, considerado por muitos o “pai” da Malásia moderna – e apesar das críticas aos seus quase vinte e cinco anos de poder – escreve no seu último livro que o Islão – ou seja a comunidade que adopta a religião islâmica como religião professa – “…voltará a ser grande quando voltar a ser senhor do conhecimento.”
Esta ideia, que constitui aliás um regresso ideológico ao passado de grandeza intelectual do Islão dos séculos X, XI e XII, tem gerado nos países que oficialmente adoptam o Islão como religião de Estado, muitos seguidores.
Na prática, significa uma condenação das práticas radicais e extremistas – tão em voga nos dias de hoje – e reconduz a problemática da identidade e da importância, à questão do saber e do conhecimento.
Nada de novo, portanto, no plano ideológico.
Mas do ponto de vista prático, esta corrente doutrinária – busca da supremacia com base no conhecimento – tem levado muitos países da esfera islâmica à adopção de políticas de educação e formação sem paralelo no chamado mundo ocidental.
Uma das mais interessantes encontra-se no Dubai (Emiratos Árabes Unidos).
A par das majestosas construções com um design e uma arquitectura arrojadíssima, a par do luxo e da ostentação, de paredes meias com o grande centro financeiro da cidade, encontramos a “Aldeia do Conhecimento” – The Knowledge Village.
É um espaço físico, delimitado, onde estão alojadas cerca de 400 empresas de Recursos Humanos, Universidades, Academias, Escolas de Gestão, beneficiando todas elas de isenções fiscais totais – ou seja, não pagam qualquer tipo de imposto – por um período mínimo de dez anos.
Todas as entidades ali alojadas – bem como os Consultores e Professores independentes que o pretendam – podem utilizar a marca “Knowledge Village” para promoverem o seu trabalho e venderem os seus serviços.
Todos os residentes na “Aldeia do Conhecimento” têm obrigação de frequentarem os workshops regulares que visam a transferência de know-how e o desenvolvimento do trabalho em rede cooperativa.
Recentemente, aquando do Congresso Mundial da IFTDO – International Federation for Training and Development Organizations, realizado no Dubai, tive oportunidade de visitar a “Aldeia do Conhecimento” e tomar contacto directo com alguns dos projectos ali desenvolvidos.
Confesso que fiquei espantado!
Não esperava encontrar, paredes meias com o maior luxo, tanto amor e tanto empenho pelo Conhecimento.
Para que os leitores tenham ideia, assisti a uma apresentação – feita pelo Assessor do Sheik do Dubai para o desenvolvimento das lideranças – de um projecto a 15 anos, que visa desenvolver competências de liderança em toda a população, e preparar as sucessões tanto na Administração Pública como no sector privado.
É um projecto que conta com um investimento global de 12 biliões de dólares e que permite a todos os jovens adquirirem formação específica, terem um Coach, e sujeitarem-se a Assessment permanente das suas competências de liderança. Estagiam nas empresas e na Administração Pública, são avaliados e partilham as suas vivências e experiências com todos os envolvidos no projecto. A assistência técnica ao projecto é garantida por alguns dos maiores especialistas mundiais em liderança e assessment.
A participação no projecto não acarreta quaisquer despesas, inclusive a frequência de Mestrados e de Pós-Graduações é suportada pelo estado.
Convém dizer também que o Dubai – a par do Bahrain – já decidiu deixar de explorar petróleo. A sua economia depende hoje do comércio, do turismo e do sector financeiro.
Com esta visão e com esta coragem, não me admiro que o desejo de Mohatir Moahmed se cumpra e que, daqui a alguns – poucos – anos, o Islão volte a ser “dono” do conhecimento.
Gostava que olhássemos estes exemplos com menos preconceito e com mais atenção e cuidado.
Se assim não for, o Alvin Toffler, ao dizer que o futuro já aí está mas milhões de cegos não o querem ver, terá cumprido a sua “terceira vaga”.

Momentum Ibérico

Na segunda semana de Abril comemoram-se os trinta e cinco anos de existência do GREF – Grupo de Responsáveis de Formação das Entidades Financeiras, grupo autónomo da AEDIPE – Associação Espanhola dos Directores de Pessoal.
Paco Segrelles, Presidente e membro fundador, organizou umas jornadas inesquecíveis – no mesmo local onde o grupo havia sido fundado – e onde estiveram presentes todos os fundadores sobrevivos.
Devido à notoriedade alcançada pelo GREF estiveram também presentes diversas entidades que se fizeram representar ao mais alto nível: o Banco de Espanha, Banco Santander Central Hispano, o BBVA, práticamente todas as Cajas, Escolas de Negócios (ESADE e Nebrija), Un iversidade Complutense e outras, muitas outras entidades de grande destaque na vida espanhola.
Todos quiseram estar presentes, dar um abraço fraterno de reconhecimento ao Paco e rever aqueles que só nestas ocasiões recordamos.
Portugal esteve representado pelo Luis Vilhena da Cunha, director-geral do Instituto de Formação Bancária. A título pessoal, o escriba desta crónica também esteve presente a convite do Presidente devido ao facto de, amiúde, ser orador e conferencistas nas jornadas anuais. Foi muito bom rever amigos e colegas que não via à alguns anos e redescobrir esse verdadeiro sentido humano da ibéria.
Foram dois dias inesquecíveis – pela carga afectiva e simbólica – mas também devido ao conteúdo de duas ou três intervenções.
Realço em particular uma notável oratória de Dom Garrigues – sim, o pai do grande escritório de advogados Garrigues e grande amigo de Portugal – que, analisou a situação política e económica espanhola com grande sageza e profundidade – e sempre com uma nota de humor.
Fez também uma análise comparativa entre a economia ibérica e a economia europeia, navegou um pouco pelos grandes blocos económicos e depois centrou-se numa das questões mais importantes do mundo contemporâneo: a questão ética.
Disse Garrigues, que ainda hoje não entende o facto de a Europa se manter no domínio da ética valorativa – meros enunciados baseados no dever ser – ao contrário dos países de influência anglo-saxónica que centram toda a sua filosofia na chamada ética normativa, ou seja, na codificação das práticas éticas.
É por isso que vemos na europa uma proliferação de documentos chamados Códigos de Ética que mais não são do que meras cartas de intenções – algumas parecem copiadas dos dez mandamentos - pois não contêm qualquer codificação dos dilemas éticos e da forma de os resolver.
E porque não codificamos os dilemas éticas, continuamos a não encontrar respostas adequadas para todas aquelas situações quotidianas onde se colocam problemas relacionados com o “certo e o errado” e o “bem e o mal”.
A europa continua refém ainda de um mundo de intenções (e lá diz o ditado popular que o inferno está cheio delas), atrasando-se no controlo de práticas que geram fenómenos de graves consequências sociais e económicas como o fenómeno da corrupção, que, gostemos ou não de o admitir, atravessa linearmente as sociedades contemporâneas.
Talvez por essa dificuldade em regular os principios, no momento actual, onde já se vislumbram sinais muito perigosos de uma recessão mundial idêntica aquela que assolou a Europa e os EUA em 1929, continuemos a pouco fazer para dela nos defendermos e começámos já a fazer a invocação da divina providência, para que nos defenda e proteja de um acontecimento tão grave.
Não se trata de criar alarmismo – inimigo da razoabilidade – mas de adquirir consciência plena da realidade objectiva e essa, seja qual for o ângilo de análise, diz-nos que não vem aí nada de bom.
Dom Garrigues, falou também dos modelos de desenvolvimento económico – nomeadamente do espanhol – centrados na construção civil e no crédito aos promotores imobiliários. Modelo esse que está na génese da chamada crise do subprime nos EUA mas que avassala espanha de uma forma arrepiante, com centenas de promotores imobiliários insolventes, milhares de empresas de comercialização imobiliária falidas e os bancos a verem o volume de incumprimento de crédito a subir piramidalmente todos os dias.
A banca espanhola está seca. Não existe liquidez. E nem a injecção de cerca de 10 biliões de euros por parte do governo – na semana de tomada de posse de Zapatero – vai resolver o problema. É mais uma medida de controlo da crise do que uma medida que contribua para a resolução da mesma. É, no fundo, controlo de danos.
E como estamos nós por cá? Imunes ao que se passa em Espanha? Ou os efeitos da integração económica ibérica estão por aí camuflados? Ou ainda não começámos a sofrer todas as consequências?
Já estão a regressar de Espanha milhares e milhares de trabalhadores portugueses que estavam aí empregados na construção civil. Vêm engrossar as fileiras do desemprego e, por cá, vão encontrar um dia destes um cenário não muito diferente daquele que deixaram para trás.
Dom Garrigues teve o condão de, através de uma análise lúcida e bem informada, despertar em mim uma consciência mais clara do que aí está e do para aí vem.
No primeiro caso, a propósito da ética.
No segundo devido à sua ausência.

Este nosso jeito de Ser...

Em 1950, realizou-se em Washington, o I Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros.
O Prof. Jorge Dias, português, Antropólogo, segundo muitos o único verdadeiro Antropólogo que até hoje tivemos, apresentou uma Comunicação intitulada “Os elementos Fundamentais da Cultura Portuguesa”.
Nunca tinha ouvido falar do Prof. Jorge Dias, até há uma semana, quando, estando a trabalhar nos Açores – em Angra do Heroísmo – me atrevi, no decurso do trabalho, a dissertar um pouco sobre a cultura e a gestão, tema que me vem apaixonando e sobre o qual tive oportunidade de, recentemente, proferir uma Conferência em Lisboa.
O trabalho que estive a realizar, incidiu sobre o desenvolvimento de capacidades pessoais para Dirigentes da Administração Pública Regional, e trabalhei em contexto de Formação.
Um dos participantes, o Francisco, mais precisamente, o Dr. Francisco Maduro Dias, Director do Gabinete responsável pela preservação do Património Histórico da Cidade de Angra do Heroísmo – cidade Património Mundial - teve uma performance assinalável.
Ouviu-me falar, comentou, tomou notas, envolveu-se no debate e, no dia seguinte, pela manhã, brindou-me com fotocópias da Comunicação atrás referida.
É um documento notável, pela simplicidade e lucidez da análise, bem como pelo rigor da pesquisa efectuada e o a-propósito dos comentários á margem.
Num acto de grande humildade, começa o Prof. Jorge Dias por afirmar que, devido ao estado actual (em 1950) dos conhecimentos, não era possível desenvolver satisfatoriamente o tema, afirmando que, estabelecer os elementos fundamentais de uma cultura, é o fim máximo a que a antropologia cultural (ou etnologia) se propõe.
É, afirma na sua comunicação, “…a cúpula de um edifício que ainda está nos alicerces”.
Confesso que, linha a linha, a minha surpresa se avolumava, ao ler o texto que estava a descobrir. Confirmava dados e conhecimentos empíricos, apreciava a dissertação rigorosa sobre a pesquisa, sorria perante o sentido de análise fino e conhecedor da alma portuguesa, esquecido que estava de estar a olhar para um documento com perto de meio século.
Consoante avançava na leitura, mais a adrenalina subia e, quando terminei, senti a alegria de compartilhar retroactivamente aquela fantástica análise.
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Quem corre o país e os países de forte emigração portuguesa, e se interroga sobre as diferentes formas de ser e estar que os portugueses revelam, sente, de forma muito clara, as diferentes influências e origens que formaram e continuam a formar este nosso jeito de ser.
Capacidade de improvisação – ou melhor, de desenrascanço, visto que o improviso, muitas, vezes, dá trabalho a preparar – medo do ridículo, sentido gregário, capacidade de adaptação a novas situações, afabilidade para com estranhos, capacidade notável de comunicação, expansividade, são características que, no conjunto, formam aquilo a que se pode chamar a “personalidade base” do povo português, esteja ele onde estiver.
Muitas outras características podiam aqui ser apontadas, mas já não seriam características gerais. Seriam sim, características típicas da cultura de uma dada região, pois, por vezes, numa atitude simplista, temos tendência a considerar como gerais, características que só se encontram em espaços geográficos perfeitamente localizados.
E, no plano cultural, Portugal é, claramente, um país assimétrico, plural, com grandes variações de região para região, correspondendo, grosso modo, ás origens étnicas e rácicas – celtas, iberos, romanos, mouros, berberes, etc. . – e também ás influências – galegas, andaluzas, germânicas, inglesas – que, ao longo da nossa história, foram moldando este nosso jeito de ser, que hoje devemos assumir com orgulho.
Porque é distintivo, porque é único, porque é nosso. Nós somos assim, pronto!

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Existe, concerteza, uma forma de ser, nacional, ou seja, que está acima de todas as diferenças e assimetrias que podemos encontrar. Está consubstanciada naquilo a que chamei atrás a nossa “personalidade-base”. (Encontram-se, porém, grandes variações, consoante estamos em Portugal, ou no estrangeiro. Dentro do País não nos valorizamos suficientemente – nem o que é nosso – mas, quando fora das fronteiras, erguemos a bandeirinha portuguesa do orgulho e o que antes era mau, passa a ser óptimo) .
Mas essa forma de ser nacional, ia dizendo - e recorro ao trabalho já citado - tem como elo de ligação histórico, o mar, o litoral. Mas, durante muito tempo, confundiu-se esse elo com o todo e, de certa forma, não se respeitaram as diferenças culturais regionais e locais.
Numa União Europeia que avança galopante, só podemos ser cidadãos europeus se formos, em primeiro lugar, cidadãos da nossa região e, depois, cidadãos do nosso país. A identidade europeia terá que ter, também, uma “personalidade-base”, generalista, deixando espaço de afirmação da diferença e da diversidade. É essa, no fundo, a grande riqueza da Europa.
A “homogeneidade cultural permanente”, como lhe chama o Prof. Jorge Dias, apesar de constituir, verdadeiramente, o núcleo central do sentimento de pertença, não pode absorver, aniquilando, as culturas e as formas de ser, regionais, antes deve estimular a afirmação dos diversos jeitos de ser, das diversas formas, dos diferentes feitios.
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Mas vejamos, de uma forma um pouco mais desenvolvida, o que é, em linhas gerais, este nosso jeito de ser, numa interpretação muito pessoal e com algumas achegas da obra atrás referida.
Tentarei definir, quanto ás características-base, o que “é” o cidadão português. Assim,
O português é …

Um misto de sonhador e de homem de acção, ou seja, um sonhador activo com sentido prático e realista. Alimenta-se do sonho, porque é mais idealista, emotivo e imaginativo do que homem de reflexão.
Despreza o interesse mesquinho e o utilitarismo puro, mas, paradoxalmente, cultiva o gosto pela ostentação e pelo luxo.
É profundamente humano, sensível, amoroso e bondoso, sem ser fraco.
Não gosta de fazer sofrer e evita os conflitos, mas, ferido no seu orgulho, pode ser violento e cruel.
Possui forte crença no milagre e nas soluções milagrosas, mesmo sabendo que elas não vão acontecer.
Sem perder o seu carácter, adapta-se facilmente a novas ideias, coisas e seres.
Tem um vivo sentido telúrico e um fundo contemplativo e poético em relação á natureza.
É um pouco inibido, por vezes, devido ao grande medo da opinião alheia e de cair no ridículo.
Apesar de fortemente individualista, possui um fundo de solidariedade humana, notável.
Não tem grande sentido de humor, mas revela uma ironia e um espírito trocista por vezes tocante.
Tem um sentido exagerado da crítica e emite juízos por tudo e por nada.
É fatalista, poético e aventureiro, expressando a contradição desses sentimentos através da saudade e da inquietude.
Tem enormes qualidades de abnegação, sacrifício e coragem.
Não sabe viver sem sonho e sem glória, ambicionando sempre poder ser herói de qualquer coisa.

O que antecede, não pretende ser uma definição de grande sentido científico, antes se enquadra numa visão muito prática, muito cheia de senso-comum, daquilo que uns têm chamado a alma portuguesa e outros, talvez mais eruditos, a personalidade do povo português.
Apesar disso,. não deixa de ser um bom instrumento de reflexão.
É este o nosso jeito de ser, a nossa forma, o nosso feitio.
Vamos aprender a gostar de ser assim!